Conselhos d'um ermitão urbano | Anderson C. Sandes
Cala-te, oh boca cansada!
Afia tua língua entre os dentes,
Afim de seres mortal,
Afim de não seres banal.
Fala, oh lâmina afiada!
Choca aquele que escuta!
Dá-lhe um golpe de verdade,
Descansa para poderes tirar o sono!
Tira os sonos de outrem,
Deixe-os em claro... na luz.
Deixe-se descansar nas trevas.
Que teus olhos vejam muitas terras,
Que vejam mais que os pés.
Que se cansem os teus pés,
Mas que as vistas continuem a viagem.
Mantenha limpa suas vestes,
E vibrante tua capa...
Carregue sempre flechas em sobra,
Carregue o que não te enfade.
Afasta-te do tolo e dos seus lábios,
Afasta-te da vulgar e dos seus lábios,
Afasta-te por penitência...
Por seres tolo e vulgar.
Aproxima-te do sábio e dos seus lábios,
Aproxima-te da virtuosa e dos seus lábios,
Aproxima-te por penitência...
Por seres tolo e vulgar.
Não grite para os surdos,
Não emudeça pra quem tem sede,
Não lance pérolas aos porcos,
Não emporcalhes o que é precioso,
Se esqueceres de todo o conselho
Lembrete apenas deste:
Clamai alto e longo por sabedoria,
Por seres tolo e vulgar.
Anderson C. Sandes